Dia desses, em que o sol rasgava a visão de Jânio frente à avenida entupida, a muvuca comprimia-se lá atrás como sardinha enlatada. Desviou do carro achatado aos pés de um caminhão e seguiu com toda força de sua tensão. Foi pelo tom da campainha que Jânio retomou a concentração na faixa. Passou despercebido pelo ponto requisitado. A mulher com os peitos comprimidos explodiu em elogios:
- Ora seu vagabundo!
- Calma nega, o próximo fica à 1km.
- Desgraçado, será possível que essa campainha precisa berrar? Você não viu que puxei essa merda de corda?
- Não, a senhora puxou a descarga, porque a merda vai descer agora.
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Quando arrancava o ônibus os passageiros gritaram: Pára! Pára! Cavou o pé no freio e levantou-se:
- Ou! Que porra é essa?
Na porta uma perua espevitada equilibrava-se num salto 20 cm. Jânio solícito abaixou a alavanca.
- Queridinho tire o olho de minhas pernas e toque logo essa geringonça.
- Quando o diabo não vem ele manda a secretária!!
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Ao estacionar sentiu o aroma de alfazema. Jânio virou-se bruscamente a fim de reconhecer a origem do perfume. Era uma distinta morena com seus trinta e dois anos bem conservados num corpo delirante. Seguida por cinco crianças na ordem crescente dos tamanhos. Jânio olhou para o cobrador disparando:
- É, malandro. Mulé boa é um filho por ano.
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Jânio e o cobrador estacionaram o latão pela última vez na manhã daquela segunda-feira. Já passavam cinco minutos do horário do almoço. “Almoço” é só modo de dizer. A grana e o tempo só davam para comer algum “negocinho” no centro da cidade. Contaram as moedas no bolso e foram até o famoso “Hot-dog do Dito”. O Dito esbanjava simpatia:
- E aí rapaziada? Como que vão ser os dogs?”
- O meu eu vou querer sem milho e ervilha – pediu o cobrador.
- E o seu?, perguntou Dito, olhando risonhamente para Jânio.
- Ah, hoje eu vou querer o meu sem cabelo de saco.
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